Exercícios resistidos e qualidade de vida: impacto na capacidade funcional e benefícios terapêuticos.

O conceito qualidade de vida (QV) trata de uma representação social criada a partir de parâmetros subjetivos (bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal) e também objetivos, cujas referências são a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade (MINAYO, HARTZ, BUSS, 2000).

O bom funcionamento do sistema músculo esquelético é fundamental para o desenvolvimento da força, ajudando na manutenção de posturas corporais e consequentemente auxiliando a manutenção da saúde com o passar dos anos (ALTER, 1999). Níveis adequados de força são imprescindíveis para a realização de diferentes tarefas cotidianas, sendo que sua redução progressiva pode muitas vezes ocasionar perda antecipada da autonomia funcional, afetando diretamente a QV (ACSM, 1998).

Os exercícios físicos (EF) indicados ao desenvolvimento ou manutenção da força muscular, chamados de exercícios resistidos (ER) ou ainda exercícios com pesos, são apontados já de longa data como parte indispensável de qualquer programa de condicionamento físico (ACSM, 1998, 2002, 2009), sendo que sua importância parece estar extremamente vinculada à melhora da capacidade funcional dos praticantes (ADAMS, CLINE, REED, 2006). Por definição, ER se caracterizam por contrações de músculos específicos contra uma resistência externa (FORJAZ. 2008).

Atualmente, percebe-se na literatura especializada, um consenso com relação à prescrição de ER para populações específicas, de maneira que parece não haver mais dúvidas no que diz respeito aos benefícios para redução dos fatores de risco ligados a doenças cardiovasculares (MAIOR et al., 2007), ao Diabetes melitus tipo 2 (CASTANEDA et al., 2002), à Osteoporose (HURLEY, ROTH, 2000), bem como para manutenção da massa magra (RENNIE et al., 2003), melhoria do equilíbrio e preservação da capacidade funcional (ACSM, 2002). Dessa forma, tem aumentado consideravelmente o número de praticantes de programas de ER em todas as faixas etárias e em ambos os sexos.

Vários instrumentos têm sido utilizados na investigação da relação entre QV e ER, entre os quais pode ser destacado o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL), bastante utilizado com o público idoso (FLECK, 2003), e o Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36), mais conhecido como SF-36 (CICONELLI et al, 1999; WARE, SHAREBORN, 1992). Ele é apontado como um dos mais utilizados (DANTAS, SAWANDA, MALERBO, 2003; TAMANINI, D´ANCONA, BOTEGA, et.al., 2003), especialmente para avaliação da QV da população em geral ou com algum tipo de patologia (DANTAS, SAWANDA, MALERBO, 2003).

Exercícios Resistidos e QV têm sido amplamente investigados, entretanto as investigações têm sido feitas de forma separada, levando a uma aparente escassez de artigos que relacionem, ao mesmo tempo, QV, ER e a utilização destes últimos na terapêutica de diferentes patologias.

Diante do exposto, o presente estudo, caracterizado como uma revisão narrativa, teve por objetivo apresentar a temática ER e QV a partir de aspectos relacionados à CF e aos benefícios do ER na prevenção e tratamento de patologias.

A seleção das publicações foi realizada do período de 1985 até os dias atuais a partir das bases de dados Scielo e Web of Science. Os artigos foram selecionados independentemente de seu ano de publicação e apresentavam no título as seguintes palavras chave: Exercício Resistido e Qualidade de Vida. As patologias citadas no presente estudo foram escolhidas por serem as mais frequentemente apresentadas nas publicações selecionadas. Outros artigos de outras bases de dados foram eventualmente incluídos de acordo com sua relevância e abordagem, de modo a fortalecer e aprimorar a discussão do texto.

Exercício resistido, capacidade funcional e qualidade de vida

O conceito de CF é bastante complexo e abrangente, envolvendo questões como deficiência, incapacidade, desvantagem, autonomia e independência. Na prática também vem sendo utilizado o termo incapacidade funcional, que se define pela presença de dificuldade no desempenho de certos gestos e de certas atividades da vida cotidiana ou mesmo pela impossibilidade de desempenhá-las (JETTE, BRANCH, 1985).

A QV geralmente é mensurada a partir da avaliação de cinco domínios de percepção subjetiva, sendo eles: CF, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais e aspectos emocionais (CICONELLI et al, 1999). Dentre esses domínios, a CF pode ser destacada como um dos domínios mais relacionados à prática de ER. Segundo Velarde (2002) a CF é um fator que altera vários aspectos da QV, pois seu declínio provoca a incapacidade de executar as atividades diárias e um mal estar em consequência deste fato.

Normalmente os problemas com a CF ocorrem a partir de idades mais avançadas ou diante de quadros patológicos, sendo que jovens, mesmo quando sedentários, geralmente não apresentam declínio. De acordo com Graves e Franklin (2001) processos degenerativos em cartilagens, ligamentos, tendões e músculos afetam a CF e consequentemente a QV, sendo que os ER apresentam efeitos que podem ser coadjuvantes no tratamento das lesões bem como na prevenção dos processos degenerativos, como no caso de idosos. Mota et al., (2003) afirma que o ER é um método efetivo para o desenvolvimento musculoesquelético. Sua prescrição é voltada para o desenvolvimento da aptidão física, aprimorando a CF, favorecendo a saúde, a prevenção e a reabilitação de lesões ortopédicas.

Os aspectos neuromusculoesqueléticos, ou seja, aqueles relacionados à capacidade de produção e manutenção da força e suas manifestações, são de grande relevância para a manutenção da CF e consequentemente da QV das pessoas em geral, em especial os idosos, e por isso, compreende-se a atual ênfase que se dá aos ER para essa população (GRAVES e FRANKLIN, 2001). Também para Gonçalves (2003), a função neuromuscular é de grande importância na autonomia, pois muitas das atividades diárias requerem força muscular. Para tanto, entende-se que a QV tem grande relação com a independência funcional e com a realização das atividades diárias com êxito. O ER destaca-se como um instrumento de grande valia nesta independência, por aprimorar o aumento de força e massa muscular.

Faria e Machala (2003) apontam que o envelhecimento conduz a perda progressiva da eficiência dos órgãos e tecidos do organismo humano, em ritmo de queda que varia de sujeito para sujeito e também de acordo com o tipo de tecido. Dentre essas perdas caracteriza-se a redução da força muscular e consequentemente da CF. A perda de força muscular ocorre principalmente devido ao declínio da função neuromuscular, ou seja, redução na capacidade de inervação e ativação dos músculos, o que leva a uma perda consequente na quantidade de massa muscular. Os ER parecem ser uma arma poderosa arma contra este declínio (ACSM, 1998;2009). São muitos os estudos que indicam os benefícios do ER para os idosos em vários aspectos, indo da CF (VELARDE e AVILA, 2002) à interação social (COSTA, 2004), assim propiciando melhor QV aos mesmos. Mazzeo et al. (1998) afirma inclusive que indivíduos idosos podem apresentar ganhos de força muscular similares a indivíduos mais jovens, e podem ainda apresentar incremento na densidade óssea, na estabilidade postural e na CF.

Além do impacto funcional, preventivo e reabilitador do ER, o apelo estético faz parte do universo relacionado à sua prática, o que muitas vezes, por mais que seja a motivação primordial, acaba contribuindo para melhora da saúde dos praticantes. Conforme Costa (2004), os benefícios do ER vão muito além da estética, já que sua prática ajuda na diminuição do estresse, aumenta a interação social, combate o sedentarismo, a aterosclerose, controla a hipertensão  arterial, obesidade, diabetes, osteoporose entre outros.

Como podemos observar parece haver um consenso em relação à necessidade de prescrição do ER tanto para idosos quanto para o público em geral, especialmente devido ao fato de que os ER parecem afetar de maneira positiva a CF.

Exercício resistido x patologias

Parece não haver mais dúvidas no que diz respeito aos benefícios do uso de ER como coadjuvantes no tratamento de patologias, especialmente aquelas que podem levar a algum tipo de incapacidade física ou funcional progressiva, entre elas as doenças cardiovasculares (MAIOR, 2007), o Diabetes Melitus tipo 2 (CASTANEDA et al.,2002), a Osteoporose (HURLEY e ROTH, 2000) e o Câncer (BATTAGLINI et al., 2004). Veremos a seguir as considerações de alguns autores a respeito do papel dos ER no tratamento de algumas dessas doenças.

Diabetes Melitus

A diabetes melitus é uma síndrome etiológica múltipla decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos (UKPDS, 1998). Os tipos da doença mais comuns são a diabetes do tipo 1, que caracteriza-se pela destruição das células beta, geralmente ocasionando deficiência absoluta de insulina, de natureza autoimune e idiopática (ATKINSON e MACLAREN, 1994), e a Diabetes do tipo 2, que varia de uma predominância de resistência insulínica com relativa deficiência insulínica a de um defeito predominantemente secretório, com ou sem resistência insulínica (WHOD, 1999).

A relação entre inatividade física e resistência à insulina foi sugerida pela primeira vez em 1945 (BLOTNER, 1945). Desde então, estudos transversais e de intervenção têm demonstrado relação direta entre atividade física e sensibilidade à insulina (RENNIE et al., 2006).

O fato de que apenas uma sessão de EF melhora a sensibilidade à insulina e que o efeito proporcionado pelo treinamento regride em poucos dias de inatividade poderia sugerir a hipótese de que esse efeito é meramente agudo. No entanto, Persghin et al. (1996) demonstrou que indivíduos com resistência à insulina apresentam melhoras de até 22% na sensibilidade ao substrato após a primeira sessão de exercício e de até 42% após seis semanas de treinamento, o que indica tanto um efeito agudo como crônico do EF sobre a sensibilidade à insulina. Também para Eriksson, Taimela e Koivisto (1997) o EF crônico melhora a sensibilidade à insulina em indivíduos saudáveis, em obesos e em diabéticos dos tipos 1 e 2.

Estudos epidemiológicos e de intervenção demonstram claramente que a prática regular de atividade física é eficaz para a prevenção e controle do diabetes do tipo 2 (TUOMILEHTO et, al., 2001) . A prática regular de atividade física tem demonstrado diminuir o risco de desenvolver diabetes do tipo 2, tanto em homens como em mulheres, independente da história familiar, do peso e de outros fatores de risco cardiovascular como o fumo e a hipertensão (MANSON et al., 1992). Estudos de intervenção têm demonstrado que mudanças no estilo de vida, adotando- se novos hábitos alimentares e prática regular de atividade física, diminuem a incidência de diabetes do tipo 2 em indivíduos com intolerância à glicose, com a realização de pelo menos quatro horas de atividade física por semana (TUOMILEHTO et al., 2001).

Os benefícios do EF sobre a sensibilidade à insulina são demonstrados tanto com o exercício aeróbio como com ER (PERSGHIN et al., 1996), de maneira que a combinação dessas modalidades de exercício pode promover melhorias, sugerindo que o exercício aeróbio e o ER podem ser aditivos visando o tratamento dessa patologia (POLLOCK et al., 2000).

O exercício resistido pode ser consideravelmente benéfico para diabéticos idosos, pois como já sabemos com o envelhecimento há diminuição da força e massa muscular, que afeta o metabolismo energético de maneira indesejada. O aumento da massa muscular através da prática de exercício resistido pode melhorar esse quadro, contribuindo para o controle glicêmico adequado dessas pessoas (CIOLAC e GUIMARÃES, 2002).

Em estudo recente foi visualizada uma redução dos níveis de glicose sanguínea, aumento dos estoques de glicogênio muscular, redução da pressão sistólica, aumento da massa muscular e do nível de atividade física diária de diabéticos idosos de ambos os sexos, após 16 semanas de exercício resistido, o que resultou em redução da medicação em 72% dos praticantes, enquanto que indivíduos que participaram do grupo controle tiveram inalterados os níveis de glicemia sanguínea, pressão sistólica e atividade física diária e diminuída os estoques de glicogênio muscular, sendo que 42% tiveram a medicação aumentada (CASTANEDA et al., 2002).

Segundo Ferreira, Morel e Braga (2008) os ER prescritos a 65% da 1RM são capazes de provocar diminuição significativa na glicemia de diabéticos tipo 1 após uma sessão. Como o tratamento do diabetes mellitus constitui-se em métodos para controlar a glicemia em níveis próximos aos normais, essa modalidade de exercícios deve se mostrar eficaz na diminuição e consequente controle em longo prazo. Uma das complicações do diabetes mellitus é a hipoglicemia que acontece de maneira aguda como resposta ao exercício. Campos (2001) aconselha fazer suplementação de carboidratos para que a queda não seja a ponto de induzir uma hipoglicemia no diabético.

A maioria dos autores encara de forma positiva a contribuição do EF em geral, inclusive do ER, no tratamento da diabetes melitus. Todavia, ao menos para o universo literário investigado, parece haver ainda lacunas quanto ao mecanismo fisiológico exato mediado pelo EF bem como qual é o melhor tipo de EF, ou seja, predominantemente aeróbio ou anaeróbio.

Osteoporose

A utilização de ER tem demonstrado grande importância na manutenção da massa óssea, por promover estímulo mecânico que leva à osteogênese, diminuindo a incidência de osteoporose (SANTAREM, 2001).

No que diz respeito aos benefícios osteogênicos, o ER apresenta-se como estímulo eficaz na obtenção de ossos mais fortes e resistentes, por oferecer considerável sobrecarga tensional (MCILWAIN, 1999), representando resistências maiores que aquelas impostas nas atividades da vida diária (HERLIHY, 2002).

Estes efeitos benéficos puderam ser vistos em estudo realizado por NELSON (1994), onde ao submeter 39 mulheres na faixa etária de 50 a 70 anos a um programa de ER de alta intensidade, visualizou que após 52 semanas de treinamento a amostra apresentou um incremento na densidade mineral óssea do colo do fêmur e da coluna lombar, ao contrário do grupo controle demonstrou reduções nestas mesmas variáveis.

O princípio da estimulação osteogênica nessa atividade está associado diretamente ao estresse mecânico. Essa deformidade momentânea acarreta alguns eventos osteoblásticos em resposta às modificações na tensão do osso (TENÓRIO et al., 2005).

Treinamentos com peso de alta intensidade garantem melhores resultados em comparação com os de treinamento de resistência (ACSM, 1995). Isto pode ser explicado pelo fato de que a intensidade da carga é muito mais importante do que o número de repetições (GURGEL, 2002).

De acordo com CAMPOS (2001), o ER é de extrema importância para o osteoporótico, por proporcionar ganho de força, massa muscular e resistência muscular, associado a melhoras na flexibilidade, coordenação e agilidade, resultando em adaptações no processo de remodelação óssea. Estes ganhos tornam-se ainda mais importantes vistos uma relação positiva independente entre a força muscular e densidade mineral óssea, onde a massa muscular tem contribuição importante para a densidade mineral óssea (WEGNER et al., 1993).

Exceto nos casos de osteoporose severa, na qual se evita qualquer tipo de atividade de impacto, fica clara a importância do ER na manutenção da massa óssea, que pode prevenir e evitar o agravamento do quadro da osteoporose, sendo de grande importância não só na chamada terceira idade, quando são mais comuns os casos da doença, mas também em adultos como prevenção de futuros casos da patologia.

Hipertensão Arterial

Apesar de estudos investigando os benefícios do EF na prevenção, controle e tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) existir de longa data (FLECK e DEAN, 1987), recentemente tem aumentado o interesse científico em relação aos efeitos cardiovasculares do ER (FORJAZ et al., 2003).

Todavia, mesmo com este súbito aumento de investigações, existe ainda uma aparente escassez de dados científicos relacionando o uso de ER no tratamento HAS, cujos efeitos cardiovasculares podem diferir em função da intensidade do protocolo.

Exercício de baixa intensidade, que promove melhora da resistência muscular localizada (RML), podem causar aumentos modestos da pressão arterial durante sua execução, reduzem essa pressão após sua realização e, em longo prazo, podem promover uma pequena queda da pressão arterial de hipertensos (SBH, 2002).

De modo geral, têm-se verificado aumento (FOCHT e KOLTYN, 1999), manutenção (ROLTSCH et al., 2001) ou ainda redução (HARDY e TUCKER, 1998) da pressão arterial sistólica, e manutenção (FISHER, 2001) ou queda (FOCHT e KOLTYN, 1999) da pressão arterial diastólica após uma sessão de exercícios resistidos.

De acordo com Forjaz et al. (2003), os ER de alta intensidade, que visam à melhora da força/hipertrofia muscular, promovem um aumento extremamente grande da pressão arterial durante sua execução, o que pode levar ao rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes, que são mais comuns em hipertensos. Além disso, esses exercícios, apesar de reduzirem a pressão arterial após sua finalização, não apresentam efeito hipotensor em longo prazo. Dessa forma, os exercícios resistidos de baixa intensidade são indicados aos hipertensos em complemento aos exercícios aeróbios, mas os exercícios resistidos de alta intensidade devem ser evitados nesses pacientes (FORJAZ et al., 2003).

Em estudo realizado por Maior et al. (2007), foi analisado e comparado o efeito hipotensivo sobre a PAS e PAD pós-exercícios resistidos com o mesmo volume, mas realizados em diferentes intervalos de recuperação. Os resultados apontaram que os exercícios resistidos realizados em ambos intervalos, desencadearam efeito hipotensivo sobre a PAS e PAD a partir de 30 minutos após o término da atividade.

Em um recente estudo de Polito (2009), que se propôs a investigar o ER e a PA de repouso, foram encontradas 12 referências sobre o treinamento com pesos em longo prazo e a pressão arterial em repouso de normotensos, e seis referências em hipertensos. Envolvendo normotensos foram considerados 14 grupos de treinamento. Desses grupos, 11 apresentaram aumento significativo na força muscular, cinco redução na pressão arterial sistólica, e quatro redução na pressão arterial diastólica, somente três grupos apresentaram simultaneamente redução na pressão arterial sistólica e diastólica e aumento da força muscular. Em relação aos estudos com hipertensos, quatro reportaram aumento significativo na força, três redução na pressão arterial sistólica e dois na pressão arterial diastólica, somente um mostrou redução na pressão arterial sistólica, diastólica e aumento da força. O autor concluiu, a partir desse estudo de revisão, que embora alguns estudos mostrem resultados promissores, novas investigações são necessárias para estabelecer o real papel do ER sobre a PA.

Com a intenção de evitar riscos durante o treinamento resistido para Hipertensos, é importante atentar a algumas regras como: evitar Manobra de Valsalva (bloqueio da respiração no momento da realização da força, através do fechamento da glote, causando aumento da pressão intratorácica) devido ao potencial aumento da pressão arterial; escolher a respiração passiva (ato de expirar no momento da contração concêntrica, diminuindo a pressão intratorácica bem como o risco da realização da Manobra de Valsalva); evitar exercícios isométricos e exercícios de alta intensidade com componentes estáticos importantes (isometria), pois eles provocam elevações mais acentuadas tanto da pressão arterial sistólica quanto da pressão arterial diastólica, podendo atingir níveis de pressão arterial média perigosos; evitar posições declinadas: Devido à diferenciação da pressão gravitacional de acordo com a posição do corpo humano, aumentando a sobrecarga na região central e superior do corpo. Pode ser desencadeada com o uso de medicações hipertensivas (GRUBB et al., 2000).

Conforme as observações acima podem constatar que o impacto dos ER na HAS ainda é muito polêmico. Todavia, a maioria dos autores parece concordar no que diz respeito aos benefícios desse tipo de exercício quando realizada em intensidade leve e moderada, sendo que quando realizados em alta intensidade não são recomendados para este público. Embora alguns estudos mostrem resultados promissores, novas investigações são necessárias para estabelecer o real papel do ER sobre a HAS.

Câncer

O metabolismo de pacientes portadores de câncer sofre modificações drásticas devido ao estresse criado pela própria doença, como também pelos efeitos colaterais produzidos pelos tratamentos tradicionais administrados (cirurgia, quimioterapia ou radiação). As combinações dessas modificações metabólicas podem ser associadas à depressão psicológica e à diminuição no apetite, fatores que levam os pacientes a iniciarem um ciclo vicioso de perda de massa muscular, diminuição nos níveis de atividade física, resultando em um estado de fraqueza generalizado (COURNEYA, 2003).

A atividade física produz alterações metabólicas e morfológicas crônicas que podem torná-la uma opção importante no tratamento e no processo de recuperação envolvendo pacientes com câncer (DIMEO et al., 1997). Porém, poucas pesquisas existem atualmente envolvendo a utilização de atividades físicas na reabilitação de pacientes portadores de câncer.

Alguns centros especializados em reabilitação, nos Estados Unidos, têm utilizado diferentes programas de exercícios físicos na recuperação desses pacientes. Programas de tal natureza têm como objetivo principal a melhora da capacidade cardiovascular, a diminuição da gordura corporal, o aumento da resistência muscular, força e flexibilidade. Todos esses fatores associados diminuem as alterações deletérias causadas no metabolismo, melhorando assim a saúde na qualidade de vida dos pacientes e criando uma melhor expectativa no combate da doença (ROCKY, 2000).

O volume, intensidade e tipos de exercícios físicos são os principais fatores que devem ser levados em consideração no sucesso da prescrição de exercícios específicos para pacientes com câncer. Atualmente, logo após o diagnóstico da doença, diferentes abordagens de prescrição têm sido utilizadas como forma de tratamento. Exercícios físicos aeróbios e resistidos de baixa intensidade e volume foram aplicados juntamente com a administração dos tratamentos tradicionais de câncer (cirurgia, quimioterapia ou radiação) e após o término desses (DIMEO et al., 2001). Porém, muitas das alterações crônicas induzidas pelo exercício podem não trazer benefícios para a redução dos níveis de fadiga desses pacientes. Portanto, as adaptações crônicas induzidas pelo exercício e suas relações com o nível de fadiga precisam ser melhor estabelecidas.

Em estudo recente (BATTAGLINI et al., 2004), foi aplicado um circuito de treinamento que incluiu: Cinco a 10 minutos de alongamentos; 10 a 20 minutos de esteira ou bicicleta ergométrica (50% a 55% da FCmáx); exercícios resistidos (desenvolvimento lateral e frontal com halteres, supino horizontal, puxada no pulley, leg press, extensão de joelhos, flexão de joelhos e exercícios abdominais no solo) a 50% de 1RM . Foram realizados, ao final de cada sessão, cinco a 10 minutos de alongamento. Foram percebidas diferenças significantes na questão da força em exercícios como supino, leg press e abdominal, havendo uma grande evolução na força dos pacientes a partir dos exercícios resistidos.

Apesar da relação entre ER e Câncer ser ainda pouco investigada, a maioria dos autores concorda que é importante à prática desse tipo de exercício na reabilitação de pacientes, pois o tratamento dessa patologia costuma enfraquecer muito os enfermos, sendo que o ER, por ser capaz de promover melhoras na força e CF, pode ajudar na recuperação dos pacientes.

Sedentarismo

A partir do processo de industrialização, surgiu um crescente número de pessoas que se tornam sedentárias com poucas oportunidades de praticar atividades físicas. Diversos autores têm demonstrado associação entre sedentarismo e agravos cardiovasculares (KOHL, 2001), câncer (FRIEDENREICH, 2001), diabetes (TUOMILEHTO et, al., 2001) e saúde mental (YAFFE et al., 2001). Outros estudos demonstram que o sedentarismo está também associado à hipertensão arterial e diabetes (YAFFE et al., 2001), além de ser mais prevalente em mulheres, idosos e pessoas de baixa escolaridade (GOMES, SIQUEIRA, SICHIERI, 2001).

Para identificar o sedentarismo, o instrumento que vem sendo utilizado de forma mais frequente é a versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (QIAF), que contempla as diversas facetas desse problema de saúde pública: atividades domésticas, atividades no trabalho, atividades no lazer e deslocamentos (MATSUDO et al., 2001).

O sedentarismo é entendido hoje como uma epidemia (MASSON, 2005), sendo que diversas campanhas em nível nacional e mundial vem sendo feitas para erradica-lo (Programa Agita São Paulo, Programa Agita Minas e Programa Agita Porto Alegre).

O ER de maneira geral tem efeitos fisiológicos opostos aos do sedentarismo. A estrutura corporal tende a piorar com o sedentarismo em função do aumento do tecido adiposo e redução da massa óssea e da massa muscular. Grande parte das qualidades de aptidão física apresenta redução em seus níveis nas pessoas sedentárias, podendo dificultar a vida diária e reduzir o bem estar psicológico e social (MACEDO, 2003). O fato de que os efeitos do sedentarismo são lentamente instalados, explica porque pessoas jovens sedentárias não costumam ter consciência dos seus malefícios. Por outro lado, as pessoas idosas sentem os efeitos do sedentarismo nas limitações que encontram para a vida diária, e nas doenças crônicas manifestas (ARAÚJO e SOARES, 2000).

O sedentarismo parece ser um fator de risco em longo prazo e, como parte da população tem a cultura de mudar seus hábitos de vida apenas quando o perigo bate a porta, só começam a prática de alguma atividade física quando já adquiriram alguma patologia em consequência do sedentarismo. Cabe aos profissionais da saúde o incentivo dos bons hábitos desde cedo pra evitar o surgimento de futuras patologias decorrentes da vida sedentária, o que pode inclusive reduzir os gastos públicos com saúde.

Conclusões

Mesmo depois de anos de estudo relacionando ER e QV, novas investigações continuam surgindo e apontando aspectos importantes no que diz respeito ao papel do ER na melhoria da QV. O entendimento da prática e uso dos ER voltados à saúde vem sofrendo alterações importantes desde que saíram da obscuridade e preconceito ligados aos atletas do fisiculturismo de outrora, passando hoje ao patamar de prática imprescindível quando o assunto é saúde.

Com base no que foi apresentado, é possível admitir que embora não exista um consenso em relação a um protocolo padrão de montagem de treinamentos resistidos para algumas patologias, existem pontos de comum acordo entre autores, que poderão servir como norteadores na montagem desses treinamentos. A capacidade funcional parece ser a variável mais afetada com a prática de ER e é provavelmente devido a isso que se percebe sucesso no seu uso como coadjuvante na terapia de doenças, especialmente aquelas abordadas nesta revisão.

Muito se ouve falar em relação a políticas públicas que utilizam o EF para a prevenção e tratamentos de doenças, mas em muitas vezes, por preconceito ou falta de conhecimento de seus criadores, o ER não é citado, e nem posto em prática nos programas, sendo que apenas os exercícios aeróbios recebem destaque. A partir do que foi exposto, pode ser percebida a importância do ER, o que sugere a inclusão incondicional de ER na elaboração de projetos vinculados a programas e políticas públicas voltadas à saúde.

Danilo Maciel.
Profissional de Educação Física
Cref: 066913-G / SP

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